Indústria Naval
Com o retorno dos investimentos na construção de navios e em atividades offshore pela Petrobras, houve um renascer da Indústria Oceânica no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, entre 2008 e 2014. Por força da sua condição geográfica privilegiada e da economia diversificada, o Estado, principalmente no Polo Naval de Rio Grande, recebeu significativos investimentos. Vários estaleiros se estabeleceram na área, o que inclui QGI (Honório Bicalho), Estaleiros Rio Grande (ERG1 e ERG2) e Estaleiros do Brasil (EBR). Em uma década, cerca de R$ 15 bilhões foram investidos na construção de estaleiros e plataformas.
Uma das razões do desenvolvimento do setor no Estado é a relação direta com um conjunto de atividades pré-existentes. Esferas produtivas e de serviços envolvem desde o fornecimento de matérias-primas, componentes, sistemas hidráulicos, elétricos e de automação até a fabricação de máquinas e equipamentos. Também fazem parte dessa gama de serviços as atividades de apoio em operação logística de transporte rodoviário e hidroviário, de movimentação de cargas e de operação portuária.
As condições geográficas específicas do Rio Grande do Sul também ajudam a explicar o destaque gaúcho no setor. A Indústria Naval está inserida em uma considerável extensão territorial, compreendendo mais de 50 municípios. Todas as operações da indústria podem ser instaladas ao longo de mais de 400 quilômetros de hidrovias – situação única no Brasil. O início do processo se dá no Polo Naval, em Rio Grande. Em seguida, passa pela hidrovia da Lagoa dos Patos e os rios navegáveis do sistema Guaíba, Jacuí e Taquari. A partir de então, integra-se, também por via terrestre, ao eixo industrial Porto Alegre-Caxias do Sul. Ali estão situados os polos metalmecânico, eletroeletrônico, de automação, máquinas e equipamentos industriais.
Sob a coordenação da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), foi iniciada uma intensa mobilização de atores locais e regionais para a constituição do Arranjo Produtivo Local (APL) Polo Naval e Offshore de Rio Grande e Entorno, com apoio do Governo do Estado. O arranjo é composto pelos estaleiros ERG1 e ERG2, Honório Bicalho e EBR, além de suas cadeias de fornecedores. Em agosto de 2014, foi fundada a Associação APL do Polo Naval e de Energia de Rio Grande e Entorno, entidade independente que atualmente conta com 85 associados participantes da cadeia produtiva da construção naval e do setor de energia: Petrobras, estaleiros, indústrias de diversos segmentos, fornecedores de bens e serviços, instituições de ensino e pesquisa, associações empresariais e sindicatos1.
A indústria da região vem sofrendo retração desde 2014, por conta das investigações anticorrupção da Operação Lava-Jato, que atingiram fortemente a Petrobras – a principal cliente dos estaleiros –, assim como os maiores grupos empresarias do setor. Diante desse cenário, a Engevix-Ecovix Construções Oceânicas, responsável pelos estaleiros ERG1 e ERG2, entrou em recuperação judicial em 2017. Para viabilizar a recuperação da empresa, o Grupo Engevix reestruturou os seus ativos dentro do modelo de Unidade Produtiva Isolada (UPI), que blinda os investidores interessados na compra de ativos da empresa em recuperação judicial, permitindo que se venda a empresa a interessados. Entre os ativos à venda, estão o dique e o pórtico dos estaleiros, guindastes para grandes estruturas e equipamentos2. ERG1 e ERG2 contam com cerca de 700 mil metros quadrados de área, um dique seco de grandes dimensões (350m x 133m), pórticos com capacidade de 600 e 2 mil toneladas. Já existem empresas e estaleiros internacionais avaliando as estruturas à venda.
O Estaleiro Honório Bicalho, sob responsabilidade do consórcio QGI Brasil (Queiroz Galvão e Iesa Óleo & Gás), conta com área de 320 mil metros quadrados e tem capacidade de processar 8,4 mil toneladas de aço por ano. Possui um cais com comprimento superior a 700 metros, o que lhe confere capacidade para construir até duas plataformas FPSO simultaneamente, como ocorreu com a P-63 e P-58 em 2013. A QGI Brasil ainda construiu a plataforma P-55. Os contratos das plataformas totalizaram cerca de US$ 3,6 bilhões. Em outubro de 2016, a QGI Brasil iniciou a integração das plataformas P-75 e P-77, totalizando mais de US$ 1,5 bilhão em contratos. Com o projeto, estima-se a criação de 1,2 mil empregos diretos e 3 mil indiretos.
No vizinho município de São José do Norte, localiza-se o estaleiro EBR, com cerca de 1,5 milhão de metros quadrados de área, onde está sendo realizada a integração da plataforma P-74, em um contrato de cerca de US$ 740 milhões, com previsão de entrega para fim de 2017.
O Polo Naval do Delta do Jacuí, instalado em Charqueadas, é um dos que mais sofreu com a crise da Petrobras. Lançado em 2012 e tendo como empresa âncora a Iesa Óleo & Gás, os contratos do polo para fornecimento à Petrobras somavam mais de US$ 720 milhões e previam a construção de 24 módulos para seis plataformas de exploração de petróleo no pré-sal. Desde 2014, a Iesa Óleo e Gás está em recuperação judicial e vendendo os seus ativos.
Oportunidades do setor
- Construção de navios para o transporte marítimo de cabotagem.
- A demanda brasileira por plataformas de petróleo do tipo FPSO (produção, armazenagem e transbordo) prossegue, já que existem reservas de petróleo a explorar. O Brasil será o maior mercado do mundo para plataformas desse tipo nos próximos anos3. Existe estrutura instalada no Rio Grande do Sul para lidar com essa demanda. Nesse sentido, a aquisição de ativos dos estaleiros em recuperação judicial se torna uma ótima oportunidade para garantir posicionamento relevante nesse mercado.
- Estaleiros de manutenção naval: existem pouquíssimos estaleiros de reparo naval na América do Sul, e o Rio Grande do Sul possui posicionamento estratégico para ser um centro relevante de reparo e manutenção naval.